11 de mai. de 2008

Estranho...

Acordou sentindo um frio além do normal. Logo ele, que era sempre tão calorento. Ainda não tinha percebido que seria um dia estranho. Estranho...

Tratou de se agasalhar antes de ir pra aula. No ônibus viu que era o único que estava agasalhado. Sentiu-se diferente dos outros. Ainda mais por estar vestindo um moletom laranja.

Chegou à sala de aula e, para sua surpresa, ainda era o único com roupa de inverno. “Será que é exagero meu? Será que não está tão frio assim?” – pensava. Na hora do intervalo, arrependeu-se por ter deixado o agasalho na sala de aula. Se encolhia a cada vento.

Em sua cabeça, sua camiseta branca parecia muito mais branca. Até isso parecia destacá-lo no meio dos outros. E justamente num dia daqueles que, como todo mundo, tudo o que ele não queria era ser percebido pelos demais.

Depois da aula foi até uma clínica médica fazer o exame psicotécnico, para dar início ao seu processo de habilitação. Pouco tempo depois de chegar foi encaminhado à sala de exame. Muito nervoso, ele começou a seguir as instruções da simpática mocinha que lhe pedia para fazer desenhos:

- “Mantenha os dois pés no chão, por favor” – pedia

Para ele, ainda mais quando nervoso, era difícil manter os pés parados, imóveis, estáticos. Se pudesse, tenho certeza, ele se sentaria sob as pernas cruzadas. Assim faria “desenhos” muito mais bonitos, e não aqueles que pareciam ser feitos por uma criança. Finalmente o exame acabou. A moça saiu da sala e voltou em seguida com os ‘rabiscos’ marcados em vermelho. Disse a ele que aguardasse o médico na sala de espera. Naquele momento não se sentiu estranho. Pelo menos parecia ser normal. Já ouvira dizer que os loucos não eram aprovados em exames como esse.

O médico o chamou:

-“Tudo bem?”

-“Tudo...”

-“Diga, por favor, qual luz está acesa!”

-“Verde”

-“E agora?”

-“Vermelha”

- “E agora?”

-“Vermelha... a outra era amarela, né?” – e sorriu sem graça.

-“Você já sabia que era daltônico?” – perguntou o médico.

E começou a mostrar-lhe um monte de desenhos bem coloridos. Ficava nervoso quando não conseguia ver nenhum desenho diante daquelas bolinhas coloridas. A sensação de normalidade acabou ali. Agora tudo era estranho novamente. Sentia-se como um rato de laboratório, sendo examinado e questionado pelo médico a todo momento sobre “que cor é essa?”.

-“ A pressão está normal” – disse o médico enquanto atendia o celular.

Pelo menos a pressão estava normal. Aliviado, recebeu a notícia de que estava aprovado.

O Sol estava quente. Eram três da tarde. Não pensou muito, abriu a mochila e retirou os óculos escuros. Ao entrar no ônibus, foi novamente como se todos olhassem para ele. Era novamente o ‘elemento estranho’ da situação. Nenhuma pessoa usava óculos escuros no ônibus. Sentou-se na primeira cadeira, sozinho, evitando ser visto. Mas, ainda assim, tinha que lidar com os olhares disfarçados do trocador. Pensou que só poderia ser por causa dos óculos. Ou será que sua camisa branca, bem branca, tornara-se ainda mais reluzente por causa do Sol? Será que estava sujo? Será que um passarinho teria feito cocô em sua testa e ele nem tinha percebido? Será que alguém pregara um papel escrito “chute-me” em suas costas? Deu uma conferida no reflexo da janela e não viu nada de anormal. Então pra quê tantos olhares? Chegou em casa. Sozinho. Longe de qualquer olhar curioso. Por pouco tempo...

Foi à padaria. O lugar estava vazio. Pegou a cesta e começou a escolher os pães. Ao pegar uma rosca, ela se partiu. Ele poderia ter escolhido outra, e deixado a quebrada lá, como outras pessoas “normais” fariam. Mas ele não queria. A rosca se partiu na sua mão e, outra pessoa certamente não compraria o pão danificado.

Ao se virar para o balcão onde os pães seriam embalados, viu que todos estavam parados lhe observando. Demorou uns quinze segundos até uma das atendentes começar a embalar.

Ou eu estou extremamente bonito hoje, ou eu estou extremamente feio, ou eu estou extremamente estranho...” pensava.

- “A rosca quebrou?” – perguntou a balconista

-“Quebrou quando fui pegá-la” – tentou explicar.

Enquanto uma moça embalava os dezoito pães e a rosca quebrada (!), a outra olhava assombrada. Parecia mesmo muito espantoso alguém ir à padaria e levar pães pra casa. Agradeceu e saiu, sentindo como se continuasse sendo observado. Chegou ao caixa e respondeu à mesma pergunta: “A rosca está quebrada?”

Do caminho da padaria até sua casa, continuou se sentindo estranho. O que será que as pessoas pensavam ao ver um rapaz com tanto pão?

“Por isso que é gordo”?

“Quantas pessoas ele vai alimentar?”

“Será que comprou pão pra rua inteira? Quem sabe para o bairro inteiro?”

Enquanto caminhava, se indignava com isso! As pessoas não sabem quantas pessoas irão comer aquele pão. A verdade é que o pão serviria para dois dias: hoje à noite e amanhã de manhã! E ainda tinha uma visita faminta esperando pelo lanche aquele dia. Ninguém tinha nada a ver com isso... Ficou com raiva.

Chegou em casa. Comeu um pão e um pedaço da rosca quebrada. Ainda sobravam dezessete pães, e mais a rosca quebrada. Comentou com a mãe, que dividia a atenção entre ele e a novela das seis, o que acontecera na padaria.

Foi para o quarto ouvir música. Colocou a lista de execução para tocar no computador. Entre as 598 músicas selecionadas, a primeira a tocar foi uma do Los Hermanos. Qual?

Uma chamada “Cara Estranho”.



Foi dormir

7 comentários:

Anônimo disse...

ufa

rs, como tantas outras pessoas, que se sentem só na multidão.

as vezes pareço que nao sou deste mundo também, isso eh um personagem? ou alguem de fato?

eh isso, abraço e feliz dia da sua mãe, rsrsr

http://polecos.blogspot.com

Luifel disse...

É parece as vezes comigo! Eu me sinto assim as vezes. Quando mais quero ficar escondido, mais aparente eu fico!

Abçs kra!

Luifel disse...

Brow, acrescentando, lá no meu blog tem um meme e um selo pra vc.

Abç!

Talita disse...

Lucãoooooooo Normal né com aquele tanto de pão até eu ia ficar olhando pra vc kkkkkkkk Isso deve ser pq agora vc tá magrinho e chama a atençao da mulherada ue kkkkkkkkk

Carla M. disse...

por que isso não me soa estranho?!

todo mundo tem um dia anormal de vez em quando e parece que somos o centro das atenções. mero estado psicológico, mas vai acreditar...

parece conspiração.

Luifel disse...

Meu caro, seguinte: pra responder ao meme, vc copia as perguntas do meu blog, responde e posta. Quanto ao selo faz a mesma coisa, salva ele como figura e depois coloca ele como figura do post.

Espero ter ajudado!

Abç e bom feriado velhão!

Anônimo disse...

Que máximo! Kkk

É, realmente existem dias assim. Eu fico com raiva das pessoas me encararem. E logo, se muitos tem dias assim, fica tranquilo, que você é normal. [Ou não]

Gostei!
Abç.