22 de fev. de 2008

"Eu nunca vou te esquecer..."

Tenho mania de rabiscar qualquer pedaço de papel. E guardar. Outro dia, por acaso, encontrei esse texto. 23/07/2006. Velhinho já, mas gostei dele. Me fez pensar sobre algumas coisas. Às vezes, damos importância demais a pessoas que, para a nossa decepção, não retribui em nada aquela importância. Em resumo, não somos tão importante para aquela pessoa quanto ela é para nós. Um vizinho, um amigo da infância ou aquele colega da escola que de repente, sem nenhum motivo aparente, some.E junto com ela a possibilidade de novos momentos legais, novas conversas marcantes, novas horas intermináveis... Mesmo assim, continuo me dedicando à qualquer pessoa que eu acredite merecer meu carinho, minha amizade e meu respeito. Pode ser que não seja recíproco, mas...

Taí o texto:

Hoje estava voltando do trabalho, esperando o ônibus pra voltar pra casa. Eram nove horas de uma noite fria. Junto comigo, no ponto, tinha um homem que aparentava uns quarenta e poucos anos. Tinha os cabelos castanhos, queimados de Sol, ondulados e um pouco grandes. A pele também era queimada de Sol. O sorriso era vazio. Faltava um dente na frente e havia um outro que parecia já estar podre. O olho tinha um brilho... estou me recordando agora, enquanto escrevo. Me olhava sempre nos olhos. Cheirava à cerveja.

Ele se aproximou de mim e me pediu 50 centavos para tomar a saideira. Eu disse que não tinha. Eu realmente não tinha. Me perguntou meu nome e eu respondi. Duas vezes. Da primeira ele não escutou. “Lucas? Você é São Lucas ou é só Lucas mesmo? Só Lucas mesmo né?”. Eu sorri. O que mais poderia fazer, além de sorrir? Foi então que ele disse: “Lucas, eu nunca vou te esquecer!”. Eu ri mais ainda. Então me perguntou se podia me dar um beijo e eu falei que não. Ele se afastou um pouco de mim, disse que não me beijaria, e que aquilo era uma brincadeira. “Como aquele beijoqueiro que beijava todo mundo. Beijou até o Papa, lembra?”. Respondi que sim, mas ainda não me lembro quem é o tal beijoqueiro.

As pessoas acham que eu sou doido”, disse, e emendando uma frase na outra, me ofereceu seu agasalho. “Eu vi que você está tremendo! Está com frio?”, eu respondi que sim, agradeci a gentileza, mas não aceitei o agasalho. Ele me perguntou qual ônibus eu estava esperando. “Qualquer um”, respondi. E então ele brincou que eu iria andar sem rumo pela cidade. Vestiu a blusa de frio. Disse estar com frio por causa da cerveja que tinha tomado

Devia ter tomado um conhaque’’, brinquei. “Oh rapaz, eu devia ter guardado o dinheiro e comprado uma garrafa de conhaque... Você não tem um dinheiro aí pra me arrumar, não?”. Eu novamente disse que não. “Quem foi que ganhou a Copa do Mundo, hein? Eu estava muito doidão e nem vi quem ganhou” perguntou. A Itália” – respondi. “Parabéns pra Itália – disse ele, cantarolando em ritmo de Parabéns a você – Ela merece! Foi ela que construiu esse país! Eu sou semi-analfabeto, mas disso eu sei. A Itália que trouxe os escravos pra construir esse país!”. Sorri novamente.

Me perguntou qual era o meu grau de estudo e ficou feliz quando eu disse estar na faculdade. Cantou parabéns novamente. “Por que você não estuda ciências?. Respondi que não gostava muito daquela área e disse que estudava jornalismo. O ônibus nunca chegava. “Ih, então você vai falar mal da gente lá...”. Disse que não.

Ele disse que queria que houvesse uma desburocratização da língua portuguesa. “A gente deveria escrever como se fala. Sem ponto, sem vírgulas... Por isso eles tiraram o latim. Pra fazer uma língua burocrática como o português. Latim é muito mais fácil!”. Discordei, e ele disse que só queria que a gente escrevesse como se fala, afinal, ninguém fala da maneira como se escreve. “Ninguém! Nem a senhora, nem o doutor...” e cantou novamente “Pra senhora, pro doutor: um abraço do Jamil”. Jamil. Era esse o nome dele.

Me abraçou. “Posso te dar um beijo?”. Antes de eu responder ele próprio disse que era melhor não. Disse que tinha essa mania de beijoqueiro e que as pessoas achavam que ele era gay. “Mas eu sou atleticano! Sou homem! Sou muito homem. Se alguém vier aqui e mexer com você, eu compro briga e arrebento eles...”.Eu sorri de novo, e ele novamente disse que nunca iria me esquecer. Eu agradeci. Ele pegou minha mão, disse que a gente se esbarraria “por aí” uma outra vez, e saiu.

“Oh dona, a senhora não tem cinqüenta centavos pra me arrumar não?”, pediu a uma mulher que também esperava o ônibus.

Eu não sei bem o porque, mas acho que também não vou esquecer dele...

Confesso que tinha me esquecido dessa história, mas lendo o texto, ela voltou à minha mente, como se tivesse acontecido ontem...

2 comentários:

Anônimo disse...

Luks como sempre amei né kkkkkkkkkkkk
apesar que essas de ponto de onibus agente tem um monte kkkkkkkkk,lembra dos pivetes da Jacui com Cristiano machado??? kkkkk
bons tempos aqueles...dá uma saudade
beijosssssssss

Rajeik disse...

Que historia bacana amigo.

É bacana quando acontece umas coisas dessas,tipo conhecer pessoas que nem imaginaria ter algum contato.

Ja aconteceu comigo,e a sensação de que a pessoa seria um bom amigo,mas a probabilidade dela nao aparecer de novo em seu caminho ser grande.

Gostei disso!

abração.